quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Olhares #1

Walter Benjamin, em "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica" – um clássico da literatura acadêmica da comunicação –, diz que "Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição". O valor de culto de Benjamin diz respeito à função mística que as primeiras obras de arte (pinturas rupestres, estátuas de deuses...) possuíam. A partir do momento que a arte foi vindo à tona, o valor de culto foi recuando e o de exposição crescendo. Até a arte se tornar tecnicamente reprodutível e, assim, quase extinguir o valor de culto e, consecutivamente, a aura da obra de arte.  

"Mas o valor de culto não se entrega sem oferecer resistência. Sua última trincheira é o rosto humano. Não é por acaso que o retrato era o principal tema das primeiras fotografias. O refúgio derradeiro do valor de culto foi o culto da saudade, consagrada aos amo ausentes ou defuntos. A aura acena pela última vez na expressão fugaz de um rosto nas antigas fotos. É o que lhes dá sua beleza melancólica e incomparável"

A partir dos escritos de Benjamin e da tentativa de se fazer uma fotografia – minimamente – aurática, foi criado o projeto "Olhares", em que a fotografia tenta se fazer arte através do olhar humano, das expressões faciais; pequenos flagrantes do cotidiano que mostram a intimidade humana.

Aqui no blog, postarei uma imagem por semana e falarei um pouco sobre cada uma.


Essa imagem é uma das primeiras fotografias que fiz levando a coisa a sério. Foi feita em 2009, no primeiro ano de faculdade, e até hoje é uma de minhas fotos preferidas. Eu estava em uma aula prática da minha disciplina de Fotografia do curso de Jornalismo da Ufal. A aula se deu no Jaraguá, um bairro histórico da cidade onde eu moro, Maceió. Ali, na época, funcionava uma feira de artesanato ao lado de uma favela, que ainda existe. A proposta era fotografar a praia do local e a feira de artesanato, mas decidi ir além e entrar na favela ali perto. Assim que entrei no local, sentado por ali, estava este senhor – que esqueci de perguntar o nome, infelizmente. Ele estava nesta exata posição quando me aproximei e perguntei se podia fotografá-lo. Ele deixou e continuou exatamente do jeito que estava. Não posou. Continuou ali. Fiz a foto e fui embora. No mesmo semestre, essa foto fez parte de minha primeira exposição coletiva, junto com as pessoas da minha turma.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mundaú: além da margem



Mudando um pouco o assunto do blog (essa vai ser uma das únicas vezes, prometo), decidi fazer um post sobre um projeto novo, que fiz em conjunto com duas amigas minhas, Amanda Môa e Rhamayana Barreto, ambas estudam Jornalismo comigo. A gente decidiu se juntar para fazer uma reportagem especial sobre a poluição na Lagoa Mundaú e como essa poluição afeta a vida de quem vive da lagoa e/ou às margens da lagoa, principalmente os pescadores.

Depois de muita pesquisa, decidimos que seria interessante se fizéssemos, em vez do velho texto e foto, um vídeo. Não desmerecendo os textos/fotos, claro, afinal de contas, eu trabalho com isso. Porém, a vontade de fazer uma coisa diferente me fez deixar a câmera fotográfica um pouco de lado (fiz umas fotos dentro da lagoa, claro) e pegar, em seu lugar, a filmadora. Nunca imaginei que iria gostar tanto de fazer vídeos, já to pensando inclusive nos próximos. Não somente de estar no vídeo, mas principalmente poder "fotografar" em movimento, ver o resultado e gostar dele. 

Depois de decidir fazer um vídeo, fomos procurar peças jornalísticas já feitas nesse estilo e percebemos que todas as reportagens de TV que iam para o local faziam imagens apenas das margens da lagoa e do lixo que se acumulava ali, talvez por falta de tempo (já que a dinâmica da TV não permite dois dias de gravação) ou até por preguiça e "medo" de se aventurar mesmo, talvez. Então, depois de muita conversa com o pescador José Eudes, conseguimos com que ele nos levasse em um "tour" pela lagoa. Mas não a lagoa "bonita" que os turistas veem quando pagam 60 reais em um passeio. Entramos na canoa do seu Eudes e vimos o estado caótico em que se encontra a Mundaú dos maceioenses, a Mundaú da periferia.

Tivemos alguns pequenos problemas, principalmente com o áudio da entrevista, pois o vento no local estava muito forte nos dois dias de gravação, mas acho que isso não comprometeu a narrativa (espero que não). Sem mais palavras, segue o vídeo "Mundaú: além da margem". Para melhor visualizar, assista em HD.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Segue o seco


Semana passada, tive a oportunidade de viajar a trabalho para o sertão alagoano. A pauta: os rios que secaram durante esta estiagem, que já é uma das mais severas dos últimos vinte ou trinta anos. Nessa viagem, de dois dias, tive a oportunidade de presenciar situações antes apenas vista por mim em filmes; situações estas, que, pela tela do cinema, sempre achei por demais exageradas. Mas tive a oportunidade de registrar o sertanejo e seu desespero para encontrar água em um mundo que mais parece deserto e nem parece que fica tão perto do litoral, de onde eu tinha vindo. Situações exageradas, sim, mas que, mesmo assim, não deixam de ser realidade.

A reportagem é assinada por Deraldo Francisco, com minhas fotografias, e o motorista que nos conduziu por mais de 500 quilômetros pelo sertão foi Lázaro Menezes, o "Boy". A reportagem rendeu tanto que acabou se tornando um caderno especial do jornal O Dia Alagoas, por onde fotografo atualmente. Vale a pena conferir o material. Quem quiser ler impresso, o jornal custa apenas R$0,50 e está disponível na maioria das bancas de Maceió e em várias cidades do interior. A edição é a dessa semana, entre 14 e 19 de abril. 

De qualquer forma, estou colocando as páginas do caderno aqui embaixo. Para ler por aqui, basta clicar nas imagens que elas expandem e dá pra ler o texto todo na íntegra.








Lida a entrevista, seguem algumas fotos que fiz e que não saíram ou que não dá para ver direito na versão digitalizada do caderno.







sábado, 13 de abril de 2013

Teste: Zenit II

Já tem um tempinho que eu tenho me aventurado pelo meio analógico, mas ainda não tinha parado para descrever minhas experiências em filme. Antes de falar especificamente da minha experiência com a Zenit II, é necessário salientar que fazer fotografia analógica em Maceió é um tanto complicado. Praticamente não existe variedade de filmes nos laboratórios que ainda os vendem e o preço é bem salgado. Mas tenho fotografado aos pouquinhos e os resultados sempre me surpreendem.

Zenit II

Eu ganhei esta Zenit II de um tio meu, que a guardava em sua dispensa apenas pela memória afetiva. Ele não acreditou muito quando eu falei que aquela câmera (e uma Yashica GSN que ele também guardava) ainda poderia funcionar e se surpreendeu muito quando eu mostrei a ele o material revelado, tamanha a qualidade da imagem.

Não consegui encontrar muitas informações sobre este modelo específico da Zenit, mas percebi que a marca geralmente usa os mesmos princípios, mudando apenas as lentes. A minha, especificamente, é uma SLR, mas só chegou em mim com uma lente 58mm f2, uma lente maravilhosa, diga-se de passagem. Por permitir uma grande abertura do diafragma, o foco de suas fotos é sempre bem preciso e faz aquele desfoque de fundo que todo mundo ama.

Detahe: anel de foco
Por ser antiga, não tinha como a câmera vir intacta, obviamente. Mas os defeitos são mínimos. A câmera está sem alavanca para rebobinar o filme (por isso tive que levar a câmera ainda com o filme dentro para o laboratório), sem suporte para colocar alça e o espelho para visualização da imagem está bem sujo. Mas nada que interfira muito no resultado, ainda bem.

Eu tive algumas dificuldades por conta do espelho sujo para fazer o foco, completamente manual (como toda a câmera) e para marcar a quantidade de fotos que já havia feito porque o contador também é manual e a contagem pode mudar com o mais leve toque. Por isso fui fazendo fotos até o filme terminar e a câmera não me deixar mais mudar o quadro.

Detalhe: marcador da quantidade de fotos e anel de ajuste de velocidade
O que eu achei bem interessante foi o fotômetro da câmera. Ele mede a luz e um "tracinho" branco muda de local, aí você tem que rodar o medidor até que o metal se encontre com o tracinho branco. Depois de encontrados os dois, você observa a roda de rebobinar o filme (não sei exatamente o nome dessas partes) e ela te diz todas as combinações possíveis de abertura x velocidade que funcionam para aquela situação. Pode parecer complicado na teoria, mas na prática é bem interessante.

Detalhe: fotômetro
Como era meu primeiro teste, usei um filme relativamente barato - um Fuji 200 e não ousei muito. Nunca cheguei a usar a abertura 2, fiquei mais no 8 e 16 mesmo. Quando revelei, percebi que a câmera está também com um defeito na cortina, o que faz que vaze luz no filme na hora de passar para o próximo quadro. O bom é que esse "defeito" deixou uns vazamentos maravilhosos na maioria do filme, o que deu um "charme a mais". Sem mais enrolação, seguem algumas fotos feitas por mim com a Zenit II:








Tenho algumas outras experiências analógicas pra postar aqui ainda. Até a próxima =)

Foto por Pedro Trindade