Walter Benjamin, em "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica" – um clássico da literatura acadêmica da comunicação –, diz que "Com a fotografia, o valor de culto
começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição". O valor de culto de Benjamin diz respeito à função mística que as primeiras obras de arte (pinturas rupestres, estátuas de deuses...) possuíam. A partir do momento que a arte foi vindo à tona, o valor de culto foi recuando e o de exposição crescendo. Até a arte se tornar tecnicamente reprodutível e, assim, quase extinguir o valor de culto e, consecutivamente, a aura da obra de arte.
"Mas o
valor de culto não se entrega sem oferecer resistência. Sua última
trincheira é o rosto humano. Não é por acaso que o retrato era o
principal tema das primeiras fotografias. O refúgio derradeiro do valor
de culto foi o culto da saudade, consagrada aos amo ausentes ou
defuntos. A aura acena pela última vez na expressão fugaz de um rosto
nas antigas fotos. É o que lhes dá sua beleza melancólica e
incomparável".
A partir dos escritos de Benjamin e da tentativa de se fazer uma fotografia – minimamente – aurática, foi criado o projeto "Olhares", em que a fotografia tenta se fazer arte através do olhar humano, das expressões faciais; pequenos flagrantes do cotidiano que mostram a intimidade humana.
Aqui no blog, postarei uma imagem por semana e falarei um pouco sobre cada uma.
Essa imagem é uma das primeiras fotografias que fiz levando a coisa a sério. Foi feita em 2009, no primeiro ano de faculdade, e até hoje é uma de minhas fotos preferidas. Eu estava em uma aula prática da minha disciplina de Fotografia do curso de Jornalismo da Ufal. A aula se deu no Jaraguá, um bairro histórico da cidade onde eu moro, Maceió. Ali, na época, funcionava uma feira de artesanato ao lado de uma favela, que ainda existe. A proposta era fotografar a praia do local e a feira de artesanato, mas decidi ir além e entrar na favela ali perto. Assim que entrei no local, sentado por ali, estava este senhor – que esqueci de perguntar o nome, infelizmente. Ele estava nesta exata posição quando me aproximei e perguntei se podia fotografá-lo. Ele deixou e continuou exatamente do jeito que estava. Não posou. Continuou ali. Fiz a foto e fui embora. No mesmo semestre, essa foto fez parte de minha primeira exposição coletiva, junto com as pessoas da minha turma.
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